Férias chegando, amém? Em breve, muito breve, terei mais tempo para me dedicar a vocês e ao meu cantinho especial. Hoje quero compartilhar com vocês mais um texto da maravilhosa Lygia Fagundes Telles. De longe, uma das melhores autoras do Brasil.
Quando comecei a fazer faculdade de Tradutor/Intérprete (e infelizmente não pude terminar =/), em uma das aulas de teoria literária eu conheci a obra "Venha Ver o Pôr - do - Sol". Confesso que fiquei dias impressionada. Nunca tinha lido algo tão ousado, na época eu não costumava ler muito esse tipo de escrita. Mas, atualmente, um de meus favoritos.
Vamos lá então?
** SPOILERS**
O conto fala sobre um ex-casal. Ricardo e Raquel. Ricardo amava muito Raquel, mas ela o trocou por outro cara, mais velho e mais rico. Ricardo convida Raquel para uma conversa de amigos, um último encontro. Ele lhe dá o endereço, porém o calçamento acaba e o táxi não consegue chegar no local. Ela precisa andar a pé o restante do caminho, suja seus calçados e já chega reclamando com Ricardo. O jovem ri, e a toma pelo braço, adentrando com Raquel para um cemitério abandonado. Ela não entende, fica um tanto temerosa e depois de um tempo, Ricardo fala que é um cemitério abandonado, que sua gente está enterrada lá e que ele quer mostrar à ela o mais lindo pôr-do-sol que ela já viu. A moça desdenha de Ricardo, diz que eles poderiam se encontrar em um bar, que ela pagava e o jovem irritado não aceita (nesse momento, é possível entender a ira de Ricardo com o término do namoro). Enfim, quando estavam caminhando pelo cemitério, Ricardo começa a comparar a moça com uma prima. Maria Emília. Ele fala que ela foi sua namorada e que o amava muito, mas ele não correspondia esse amor. Ricardo então tem a súbita ideia de levar Raquel até o mausoléu onde sua prima está enterrada para que Raquel veja a foto da prima e possa notar como elas são parecidas. Apesar do medo, Raquel entra na capelinha. Lá, com um ar muito triste e sombrio, Ricardo vai se lembrando de Maria Emília, de como ela e Raquel eram parecidas. E ainda diz à moça que o que ele mais gosta naquele cemitério é a paz, o abandono, o fato de não ter ninguém por lá, ninguém é enterrado lá há anos e tals... Enfim, adentram a capela, descem os degraus e quando se aproxima do túmulo de Maria Emília, pede que Raquel veja também a foto para comparar as semelhanças. Raquel com frio e medo se aproxima do túmulo, acende um fósforo e lê: "Maria Emília, nascida em vinte de maio de mil oitocentos e falecida..."... Raquel deixa cair o fósforo e fica imóvel. Não podia ela ser a namorada de Ricardo, estava morta há mais de cem anos! Raquel quis questionar, e quando já ia chamando Ricardo de mentiroso, ouviu o baque metálico do portão. Ninguém estava lá com ela. No topo da escada, Ricardo, observando Raquel, com as chaves na mão com um sorriso meio inocente, meio malicioso. Raquel começou a esbravejar, dizia que odiava aquele tipo de brincadeira e o chamando de idiota. Ricardo lhe diz que o sol entra por uma fresta e aos poucos vai sumindo, e que naquele local, Raquel terá o pôr-do-sol mais lindo do mundo. Ela então em uma atitude desesperada tenta flertar com ele, dizendo, ou melhor, implorando para ele abrir. Ricardo já não sorria mais. Estava sério, e suas últimas palavras foram: "Boa noite, Raquel! Boa noite, meu anjo". Fechou então o portão enferrujado, guardou as chaves no bolso, e escutou o grito de Raquel: "NÃO!". Sem olhar para trás, Ricardo ouvia os gritos abafados, mas ao se afastar mais, os gritos cessaram. Crianças brincavam de cantigas de roda, e no portão, ele parou e tentou ouvir algo constatando que ninguém ouviria nada. Acendeu um cigarro, e desceu ladeira abaixo.
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Esse conto surpreendente me mostra que Lygia é realmente uma incrível escritora. Assim como disse na postagem "As Cerejas" que fiz um tempo atrás, ela desembaraça a história e só revela quando ela quer! Achei estranho o encontro no cemitério, mas nunca cogitei a possibilidade de Ricardo ser tão vingativo assim. Só no final entendi o porquê do nome do conto. Era o último pôr-do-sol que Raquel veria.
Podemos notar também algo sobre Raquel. Ex - namorada de Ricardo, trocou ele por um homem velho, rico e ciumento, que estava farto de saber dos casos de Raquel. Então, ela era uma safada filha da mãe, que tinha várias aventuras por aí, mas que agora estava com alguém que podia dar uma vida luxuosa pra ela. Ainda desdenha de Ricardo, falando que "aguentou" o moço por um ano. Além de safada era sem noção. Está com o ex-namorado em um cemitério em ruínas ao lado de um terreno baldio e começa a desdenhar do cara e exaltar o atual? Não digo que ela mereceu o fim que teve porque não sou a favor desse tipo de coisa, mas, poxa, mexer com um cara taciturno em um ambiente desses? Meu chapéu, eu não faria isso! Mas, ele já tinha esse plano em mente, não foi obra do acaso. Nota-se isso quando Raquel olha na fechadura e percebe que é nova. Ele queria que Raquel tivesse seu último pôr-do-sol, e escolheu um lugar abandonado para que demorasse muito tempo para ser descoberta.
Como ficou a consciência dele depois? Não sei. Essa é a magia da escrita de Telles, ela te deixa imaginar... Confiram o conto aqui ó:
http://www.beatrix.pro.br/index.php/venha-ver-o-por-do-sol-lygia-fagundes-telles/
Falei demais, pra variar, né? rsrsrsrs...
Espero que tenham gostado, amores, comentem pra gente trocar figurinhas.
Goodbye Sweeties!