terça-feira, 26 de setembro de 2017

Falando com: Bianca Gulim - Parte I

     Olá, olá, olá pessoas, tudo bem?
Gente, desculpem por estar sumida, mas, essa minha vida corrida está o oh. Estou trabalhando em outra cidade, e por enquanto estou dormindo na minha irmã, e lá não tem wi-fi, então, preciso digitar tudo, salvar em rascunho e quando chego no serviço eu posto, mas, é o oh fazer isso.

     Só que seria horrível da minha parte deixar vocês na mão, então, dei um jeitinho bem brasileiro de conseguir postar. E hoje eu tenho pra compartilhar com vocês uma entrevista incrível com a Bianca Gulim, parceira aqui do MLC. A entrevista está super detalhada e muito legal, mas, como eu falo demais - e pelo visto a Bi também, rs - ficou muito grande, então, dividi a entrevista para ficar fácil pra todo mundo ler.

Imagem MLC
         Nos fale um pouquinho sobre você, Bianca. Como e quando se interessou pelos livros e pela escrita? E também quero saber a origem do seu nome (Gulim) que eu acho lindo, hahah.


       Hahahahaha. Meu sobrenome Gulim é de descendência italiana, mas não sei muito a respeito, não me ligo nessas coisas, rs.


Meu interesse pela leitura surgiu desde muito cedo. Minha família sempre me incentivou a ler, sempre ganhei livros. Então a literatura é algo que está presente na minha vida desde sempre. Apesar dessa proximidade com os livros, eu nunca pensei em ser escritora. Me formei em administração, com MBA em gestão estratégica de pessoas, fiz carreira em instituição financeira. E estava tudo bem, até que eu comecei a achar minha atuação um pouco vazia, sabe? Eu comecei a sentir falta de uma entrega mais significativa. Após essa percepção, minha atuação profissional foi perdendo o sentido. E não sou o tipo de pessoa que faz por fazer. Muito menos o tipo de pessoa que prioriza remuneração, dinheiro. É importante, necessário, eu gosto de ter. Mas não é a minha prioridade. Em 2015, eu sai do ambiente corporativo. Nesse ponto, eu comecei a avaliar meus talentos para identificar que rumo profissional eu seguiria. A escrita e a paixão por livros se destacaram. Comecei a estudar o mercado editorial e identifiquei uma dificuldade muito grande de publicação e uma forte tendência para leitura digital (com um custo de produção baixinho). Então fundei com minha ex-sócia uma editora com uma proposta de trabalho coletivo, onde profissionais do livro se dedicariam em projetos que acreditassem ter potencial, aceitando remuneração em porcentagem de vendas, tornando o custo de produção muito baixo. A ideia era democratizar a produção de livros e o acesso à literatura. Essa proximidade com o universo literário, com os processos de produção de livros, despertou em mim a vontade de não apenas produzir, mas também criar. É incrível ver algo que estava apenas na mente de uma pessoa se transformar em um produto que tem o potencial de despertar emoções, gerar empática, agregar conhecimento e tantos outros benefícios. Era esse tipo de entrega significativa que eu estava buscando. Então comecei a escrever Sobreviventes. Gostei tanto da atividade que escrevi o livro em três meses enquanto ainda tocava a editora. O resultado ficou bom, as pessoas gostaram, e eu me encontrei profissionalmente. Quando sai da editora, continuei tocando minha carreira como escritora independente. Hoje, continuo na luta, rs.


          Sabemos que está terminando seu segundo livro, e o primeiro é um espetáculo. O retorno financeiro está legal, ou ainda há muita dificuldade no mercado editorial?

       Ah, dificuldade no mercado editorial sempre vai ter, né Cecy? No começo, é uma profissão difícil. A maior parte do mercado é dominada pelas grandes editoras e o espacinho que sobra para autores independentes é muito concorrido. Nesse cenário, o processo de divulgação tem que ser muito forte. Eu divulgo muito mais do que escrevo, rs. Tem que achar parceiros bem inseridos nesse ambiente literário digital para conseguir alcançar alguns leitores. E, até nisso o autor independente encontra dificuldades. Recentemente, eu fui em busca de algumas parcerias com booktubers, pois estava precisando de resenhas em vídeos. Eu dei uma estudada nesse meio e já sabia que o vídeo não seria produzido com intuito único de promover a literatura nacional, em troca do recebimento de um exemplar. Mas, mesmo esperando por uma prestação de serviço remunerada, fiquei um pouco surpresa com os valores que me foram apresentados. Me cobraram por um vídeo o mesmo que eu gastaria em uma arte de capa, o mesmo que a impressão de uma tiragem pequena. Não estou dizendo que o trabalho do booktuber não valha esse valor, mas, como escritora independente que financia todo o processo de produção, não faria sentido pagar por um serviço “bônus” o mesmo que eu pago por um serviço essencial para a produção daquele livro. Se eu tivesse um orçamento alto, tudo bem, porque a divulgação é uma etapa muito importante. Mas, como eu ainda não tenho um retorno alto, preciso limitar meu orçamento às etapas essenciais de produção. Então, é complicado: se eu não divulgar, não vendo. Se eu gastar o que me cobram com divulgação, fico sem dinheiro para garantir as etapas de produção com qualidade... é uma sinuca de bico. Só me resta continuar buscando por pessoas que tenham aquela paixão genuína pela literatura, sabe? Alguém que se importe mais com a disseminação de conteúdo nacional. O pessoal prioriza dinheiro. E tudo bem, todo mundo tem que pagar as contas, né?! Eu entendo, mas é difícil. O que me dói é vê-los fazendo resenha de livros internacionais pelo prazer da leitura, pelo prazer de compartilhar com seus leitores aquela experiência. Do livro nacional, só pagando. Ou seja, a divulgação pros caras de fora, que eles nunca tiveram contato, eles fazem de graça. Já a divulgação pra própria gente, que valorize a própria cultura, só se a recompensa for boa. Complicado. Quando eu mando uma proposta de parceria, eu prefiro receber como resposta um “Não me interesso pela leitura do seu livro”, do que “Segue meu kit mídia com valores atualizados”. É desanimador, mas eu continuo buscando, porque sei que há nesse meio pessoas mais ligadas à causa, do que à recompensa.
Mas, como você ressaltou na sua pergunta, a maior dificuldade da carreira é o retorno financeiro, mesmo. Eu atuo como escritora independente há oito meses, desde que meu primeiro livro foi publicado (e-book). Eu ainda não consegui ter lucro livre, mas também não preciso mais fazer investimento financeiro. Investi o valor necessário para produzir Sobreviventes, e o retorno financeiro que ele me trouxe é o suficiente para financiar a produção da sequência. Considerando as dificuldades do mercado e o tempo de atuação, considero um ótimo retorno.
Em verdade, eu não enxergo uma remuneração satisfatória na atuação independente. A capacidade de distribuição é muito pequena, e o preço da produção é alto. Livro é um produto caro de se produzir e barato de se vender. É preciso vender um número muito grande de exemplares para recuperar o valor investido, garantir o valor necessário para reinvestir em outros projetos, e ainda lucrar. A ideia da atuação independente é conquistar um espacinho no mercado e formar um público, mesmo que pequeno, para chamar a atenção de uma editora grande, que ofereça um contrato tradicional. E, se possível, ter números bons que garantam poder de barganha na negociação de porcentagem.

       
  Como escritora, qual é sua maior pretensão?

Viver da escrita. Hoje, a escrita não paga minhas contas. Eu fiz um planejamento financeiro muito forte antes de encarar essa profissão, guardei dinheiro para ter o privilégio de ficar um tempo sem a remuneração necessária para se viver com conforto em São Paulo. Faço algumas preparações de textos pra complementar a remuneração, também.
Eu já estudei muito o mercado editorial, atuo nele há algum tempo, tenho experiência não apenas como escritora independente, mas também como editora. Conheço os dois lados da moeda, rs. A minha conclusão é que apenas um contrato tradicional com uma editora grande é capaz de gerar remuneração satisfatória para o escritor brasileiro. E aqui não estou falando de ser rica, viu?! Mas ter uma vida confortável, conseguir pagar as contas no final do mês com tranquilidade, constituir família, dar uma educação de qualidade aoS filhos. E, nessa profissão, é difícil chegar a esse ponto. A evolução é muito lenta e depende de muitos eventos externos, que fogem do controle do escritor. Além de talento, é preciso um bocado de sorte. Malcolm Glandwell escreveu o livro OUTLIERS – FORA DE SÉRIE, onde ele expõe, também, sua opinião sobre o fato de o sucesso não depender unicamente do indivíduo, do seu desempenho, do seu talento. Ele traz estudos de casos muito esclarecedores, indico essa leitura. Na página 249, ele diz: “Os vitoriosos são aqueles que receberam oportunidades – e tiveram força e presença de espírito para agarrá-las”. Essa é a mais pura verdade, em qualquer profissão. No mercado editorial brasileiro, os eventos externos tornam essas oportunidades muito raras. E, mesmo quando elas aparecem, são inacessíveis e não identificáveis para a maioria.
Diante disso, o que resta para o escritor iniciante é atuar de maneira independente (nem vou citar as propostas de algumas editoras pequenas que cobram do escritor o valor investido na produção do livro e ainda ficam com porcentagem de lucros, que pra mim é uma grande armadilha). E a auto publicação é gostosa: você participa de perto de todas as etapas de produção, tem autonomia na tomada de decisão, a proximidade com o leitor é maior...mas, as grandes editoras têm algo que o escritor independente não consegue alcançar sozinho: distribuição. As outras etapas são acessíveis: há vários profissionais que oferecem serviços editoriais com valores inferiores ao de mercado e boa qualidade. Se você quiser investir um pouco mais, até consegue os profissionais que atuam em editoras, mas também fazem trabalhos por fora. Na questão da divulgação, há vários influenciadores literários que têm uma interação super positiva com seu público, que fazem parcerias sem investimento financeiro direto. Com o tempo, você vai tendo acesso a influenciadores que conseguem uma repercussão maior. O escritor independente tem acesso a essas etapas, depois de um tempo e muita dedicação. Agora, ter o seu livro em destaque nas maiores livrarias do Brasil, são as grandes editoras que conseguem. E isso é o que garante um número alto de vendas, não tem milagre, não tem mistério. Ter seu livro na estante da livraria do seu bairro, na conveniência do seu amigo, na banca da sua rua, é bacana, é um grande passo. Mas, provavelmente, não vai te trazer muito mais vendas do que o seu próprio site de escritor. Para o seu livro vender bastante, ele tem que estar nas grandes livrarias, espalhado pelo país. Livro é um produto comprado, em maioria, por impulso. O cara tem que sair da casa dele para ir para o shopping mais próximo e encontrar a capa do seu livro ao passear pela livraria. Se o seu livro não estiver lá, ele vai comprar outro. Mesmo que seu livro esteja lá, o leitor ainda pode comprar outro. Simples assim, a concorrência é muito grande, vence o título mais acessível para a maioria (claro que aqui estou considerando que seu produto é competitivo). A venda pela internet alcança uma parcela pequena de leitores, aqueles mais fiéis, mais ligados ao universo literário. E, infelizmente, só eles e sua família/amigos não é um público grande o suficiente para trazer uma remuneração vantajosa.
E não adianta se iludir achando que você vai ser a exceção, que com você será diferente, porque muito provavelmente não será. O mercado está dominado pelas grandes editoras, todo mundo sabe disso. Lutar conta isso é desgastante e raramente traz resultado. A não ser que você tenha capital o suficiente para imprimir uma tiragem de 10 mil exemplares, a fim de suprir o mercado livreiro, e para bancar o contrato com uma distribuidora. Fora isso, o caminho que eu enxergo como mais eficaz é conquistar seu espaço na publicação independente, de modo que você chame atenção de uma editora tradicional e tenha poder de barganha em números para negociar porcentagem.
Infelizmente, a realidade do mercado editorial é essa. Uma mudança significativa nesse cenário, na minha opinião, só será possível quando o e-book ganhar mais espaço, quando a leitura digital se popularizar. Sorte do escritor que ainda não nasceu, rs.


Imagem da internet
        E essa inspiração para distopias? De onde surgiu? De algum livro que leu, de filme que assistiu, de sonho que teve... Conta pra nós?


      Essa pergunta é a mais frequente nas entrevistas. Eu sei que quem pergunta quer o nome de um livro, o nome de um escritor. Mas é muito difícil, pelo menos para mim, identificar com essa exatidão da onde vem minha inspiração. Ela vem de tudo, Cecy! Cada história que eu conheço, seja por meio de um livro, de um filme, de uma série, de um anime, de um sonho, de uma conversa, contribui de alguma maneira. Aquelas cenas ficam guardadas na minha mente, e eu acho que eu as resgato enquanto escrevo, mesmo que de maneira inconsciente. Eu não preciso, necessariamente, me lembrar separadamente de cada cena de ação que eu vi nos filmes ou li nos livros. Mas, provavelmente, eu só tive vontade de escrever um trecho do meu livro com ação porque ver aquelas cenas em filmes e livros despertou algo bom em mim, eu gostei daquilo. Então, automaticamente, eu quero fazer aquilo, porque quero que as pessoas tenham a mesma reação que eu tive. Deu pra entender? Ficou confuso, né?! É difícil explicar, mas eu acho que tudo inspira, sem exceção.
Um exemplo fora da escrita pode ajudar: eu estou respondendo a essa entrevista e já estou ficando com vontade de vê-la diagramada em formato de revista digital no site do livro. Quem me inspirou a colocar essa entrevista nesse formato no meu site? Você, que elaborou perguntas incríveis? Os diagramadores das revistas digitais que eu já vi? O parceiro que já diagramou uma entrevista minha para esse formato? O professor de design editorial que me ensinou que a maneira como o texto está diagramado, entre outros, influencia na maneira como o leitor vai receber aquela informação? Provavelmente, todos. Mas, quando eu tomo a decisão de colocar essa entrevista no meu site nesse formato, eu não fico refletindo sobre da onde veio a inspiração para isso, acontece de maneira automática. É impossível resgatar cada evento da minha vida que me levou a ter essa inspiração. Eu citei alguns, mas certamente há outros.
Na escrita é a mesma coisa. Talvez minha vontade de escrever distopia seja porque eu amo séries como Divergente, Jogos Vorazes, Maze Runner. Talvez a inspiração para criar personagens intensos venha dos livros da Patrícia Melo, que sempre trabalha o psicológico de seus personagens, ou da Gillian Flynn, que sempre traz personagens com cargas emocionais pesadas. Talvez a minha inspiração em equilibrar ação com romance venha dos livros da J. R. Ward, que faz isso com maestria. Mas seria injusto eu citar apenas esses livros, esses autores. Porque eu já tive acesso a muitos outros que trazem as mesmas características. Não sei, eu não consigo resgatar isso com exatidão na minha mente. Só posso te responder: minha inspiração vem de todas as histórias que eu já conheci. 

       Conheço pessoas que escrevem e que não gostam de ler. Você se considera uma leitora nata ou apenas escritora?

       Sempre fui uma leitora voraz. Acho incrível como uma história pode trazer a tona sentimentos, reações. Eu me envolvo demais nas histórias que leio, quando eu gosto. E, muitas vezes, isso acaba sendo algo negativo. Às vezes eu começo a ler um livro e só volto a viver quando termino, rs. E quando isso acontece no primeiro volume de uma série? Nossa, é terrível, rs. Eu me lembro de quando comecei a ler Cinquenta Tons de Cinza. Esse era um livro que eu achava que não ia gostar, tanto que demorei bastante para ler. A sinopse não me atraia em nada, e olha que eu sempre fui fã de enredo erótico. Mas aquela história tinha clichês demais pra mim. Até hoje, eu não sei porque eu amo tanto essa trilogia, sério. Ela não tem as características que eu mais admiro em uma obra literária, eu detesto histórias que têm foco único em romance. Talvez tenha sido a escrita da autora, o perfil dos personagens... Enfim, decidi ler apenas pela curiosidade de saber o que tinha naquele conteúdo que conquistava tantos leitores. E foram os livros que eu mais devorei. Eu, literalmente, parei de viver. Minha cabeça não tinha a capacidade de pensar em mais nada além daquela história, eu não conseguia me concentrar em outra coisa. Eu precisava chegar ao final daquilo, precisava saber qual era o problema psicológico daquele cara, rs. No fim, li o primeiro e segundo volumes em um dia e meio e passei a semana mais angustiante da minha vida esperando o terceiro volume. Ainda não li Grey, porque eu demorei meses para me desvincular dessa história e tenho medo do que esse livro pode causar em mim, rs.
Nem vou dizer aqui o quanto o final da série Divergente me abalou. Foram muitas lágrimas, e eu nem gostava tanto da Tris, rs.
      Posso dizer sou uma leitora voraz, me envolvo nas histórias que gosto de uma maneira muito intensa.


          Seus autores favoritos quem são? De alguma maneira eles inspiraram você? 

Gosto muito da Patrícia Melo, da Gillian Flynn e da J. R. Ward. Com certeza elas me inspiram, entre muitos outros.


imagem da internet



     To Be Continued....


Amanhã tem mais, ok?

Beijooooo

6 comentários:

  1. Respostas
    1. Oi Lu!
      Realmente, adoro a Bianca, ela é demais! Ainda hoje sai outra parte da entrevista.

      Beijoooo

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    2. Oie Luiza!!
      Ah, obrigada. Desejo todo sucesso a você e ao Balaio de Babados, também!
      Um beijo

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  2. Olá, Cecy!
    Desejo muito sucesso a ela <3.
    Adorei o fato dela gostar de J. R. Ward também!

    Beijão
    Leitora Cretina

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    1. Oi Mô!
      Bom, eu nunca li J.R. Ward, então, não posso opinar sobre isso, hahaha.

      Beijoooo

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    2. Olá Mônica, Bianca Gulim por aqui...
      Obrigada, desejo muito sucesso a você também...
      Ward arrasa! Acho que só a Cecy ainda não conhece o trabalho incrível que ela faz em A Irmandade da Adaga Negra!!!

      Um beijo,

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